Você quer ter liberdade pra criticar, reivindicar, protestar,
ir às ruas... Mas quer fazer isso com um público seleto, só os chegados é que
podem estar ao seu lado?
Na SUA luta contra o
aumento da passagem não pode ter partido, bandeira de partido, gente de partido,
porque você e seus chegados não aceitam e agridem, achincalham e expulsam?
E você quer, com essa postura, posar de democrata,
republicano, progressista e defensor da liberdade? Você, mascarado de patriota
pacifista, na verdade tem partido, tem lado. O seu lado é o do conservadorismo,
é o lado dos reacionários que marcharam com a TFP e estiveram de braços dados
com os militares que deram o golpe em 1964 e estão, como você, sempre achando que
melhor mesmo são eles no comando – pra manter a ordem, perseguindo e cassando
os partidos de esquerda, cumprindo a missão de salvar a pátria.
O seu lado é o mesmo dos governadores e seus partidos que
não economizam balas da sua PM pra agredir quem os critica, pra criminalizar
quem faz a justa luta por direitos iguais e justiça social. Aliás, quando a PM
começa a atacar, você logo assume um lado, acusando quem reage em legítima
defesa de vândalo, gritando, com esses e para esses, “sem violência! Sem
violência!”.
O seu lado é o lado da Direita. A mesma Direita que esconde as
bandeiras de seus partidos, mas que também tem seus representantes nas
passeatas, infiltrados e dedicados a criar a cisão no movimento, estimulando a
violência e o apartidarismo – “usem branco!”, dizem eles, querendo uniformizar
uma falsa neutralidade.
O seu lado é o lado dos que não tem pauta específica pra
defender na passeata, a não ser o impeachment de Dilma. Genérico e inócuo, seu
cartaz é “contra a corrupção” - de quem? Dos capitalistas que sonegam impostos
e enriquecem às custas de quem trabalha? Não. Contra a exploração e a gana pelo
lucro, próprio do capitalismo, que é a causa, inclusive, do aumento da
passagem, você não dá uma palavra. Mas, estimula a luta contra a corrupção dos
políticos – assim mesmo, generalizando, pra promover o descrédito na política,
enquanto você afia o discurso do retrocesso como solução.
Aqui em Recife, no protesto de quinta-feira, você estará lá.
Eu também. Tenho uma pauta para defender, ela inclui as bandeiras sobre
melhoria no transporte coletivo, redução real do preço da passagem... Mas,
também defendo, entre outras coisas: reforma agrária e cadeia para os latifundiários
assassinos de indígenas e sem-terra; punição para os torturadores da Ditadura
Militar, o fim da propriedade privada e da exploração capitalista. Certamente,
não estaremos, como não estamos, levantando a mesma bandeira.
Defenderei, também, o direito dos que tem partido de se
manifestar. Se você tiver coragem de assumir o seu partido e não se envergonhar
em levantar sua bandeira, também será respeitado. O que não dá pra respeitar e
aceitar é o oportunismo e a manipulação dos reacionários disfarçados de falsos
amigos da juventude. Não tenho partido. Mas, tenho lado.