sábado, 4 de julho de 2009

Por que o Golpe em Honduras?

O Presidente Manuel Zelaya, não foi preso e deposto pelas Forças Armadas, pelo Congresso e a Corte de Honduras simplesmente porque queria aprovar, a contragosto desses, a reeleição no País. A verdade não é assim, tão simplista.

A verdade é que Zelaya era muito próximo do governo Chávez e, mais que isso, da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) – que se contrapõe radicalmente a ALCA/E.U.A. – e tem, em suas fileiras, países como Cuba. Não é a toa que, num encontro da ALBA, países como Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia e Cuba se apressaram em condenar o golpe, defender o legítimo e legal governo de Zelaya e exigir o seu reingresso ao poder. Essa defesa, aliás, foi feita antes mesmo da declaração pífia de Obama em “defesa da democracia”, mas, sem veemência em condenar o golpe.

E essa postura de Obama não é por acaso. Pois, os Estados Unidos têm uma base militar em Honduras, mais precisamente em Soto Cano, cidade a 97 km da Capital Tegucigalpa. Tal base é fundamental nas operações de intervenção a países da América Latina, mascaradas pelo governo dos Estados Unidos como “operações contra o narcotráfico”. Intervenção essa, recentemente criticada pelo Presidente Zelaya, em documento à Obama.

Vale ressaltar, que a Constituição hondurenha não permite tal presença militar no País. Um acordo realizado em 1954 – em plena Guerra Fria – é que legitimou a ação. Em troca, o terceiro país mais pobre das Américas (perdendo apenas para Haiti e Nicarágua), recebe ajuda econômica e militar dos E.U.A. Eis aí o xis da questão: o governo progressista de Zelaya buscava outras alternativas, à esquerda, para melhorar a vida do povo hondurenho. Na mesma Soto Cano, Zelaya anunciou, no último 31 de maio, que construiria ali um aeroporto, com apoio da ALBA, que teria vôos internacionais comerciais. É evidente que essa iniciativa não agradou ao governo Obama, tão pouco às forças armadas e à burguesia de Honduras.

Em 24 de junho, Zelaya destituiu o então chefe do Estado Maior Vásquez, por desobediência. E este, juntamente com o comandante da Força Aérea, está entre os principais articuladores do golpe. É bom dizer que ambos estudaram na famosa Escola das Américas – especializada em ensinar a prática da tortura e as ações golpistas como esta em Honduras – com relação direta com o Pentágono.

Portanto, o que provocou esse golpe de Estado não foi a vontade de um presidente em se reeleger. Foi sim, a vontade de um governo e de um povo em não mais se submeter e nem ser subserviente ao imperialismo estadunidense. Contrariando, assim, os planos de uma burguesia nacional e estrangeira.

É por isso mesmo, que temos certeza que o presidente Lula não precisa ter medo disso “virar moda de novo” (como declarou ao se posicionar contra o golpe), uma vez que, o seu governo – embora queira a treleição (!), seja com ele ou com Dilma – não corre o risco de sofrer o mesmo mal que Zelaya, pois não só continua subserviente aos E.U.A., como se vangloria de tirar dinheiro do povo brasileiro para garantir o superlucro dos banqueiros do Tio Sam. Afinal, “ele é o cara!” e essa moda, embora ultrapassada, ainda tem fortes adeptos, sobretudo no governo brasileiro.

6 comentários:

Anônimo disse...

acho que um país que um presidente se alia com chaves e companhia nao merece confianca. o presidente sim e uma ameça a democracia. e nao teve golpe ele que quera da golpe no povo que elegeu inocente. agora sim o povo de honduras vai viver em paz com um governo serio comprometido com a verdade e a vida.

Izabel Santos disse...

Caro "Anônimo" (^^),
o senso comum costuma compreender Democracia como a vontade da maioria externada no ato de votar. Entende-se por um país democrático aquele em que o povo vai às urnas...!
Sendo assim, a democracia foi exercitada pelo povo hondurenho quando, livremente, foi às urnas e elegeu para presidente do seu País, Manuel Zelaya.
Hoje, (ou melhor, desde 28 de junho passado) o que não está se respeitando em Honduras é exatamente isso: a decisão livre e democrática da maioria do povo daquele País. E tudo porque o Presidente não comunga da mesma ideologia da burguesia local e decide privilegiar a maioria, o povo, nas ações do seu governo.
Respeito e agradeço o seu comentário, "Anônimo" (só senti falta dos seus "^^"! kkkkk). Porém, mais do que este texto, a própria Globo, no Fantástico de hoje, provou para você e para todos que se iludem e acreditam que, como você diz: "agora sim o povo de honduras vai viver em paz com um governo sério comprometido com a verdade e a vida", pelo contrário, basta ver as cenas gravadas hoje, no aeroporto de Tegucigalpa: o exército atirando no povo que, aí sim, inocentemente, achava que podia protestar contra o golpe e pelo retorno de Zelaya sem sofrer nada mais grave, quando é metralhado por pelotões, sob as ordens de Michelleti, que assassina - a queima roupa - pelo menos, duas pessoas.
Portanto, se essa é a sua concepção de democracia e de confiança, prefiro ficar com a minha ditadura e a de progressistas, como Zelaya.

Thayana Santos disse...

Esse comentário "anônimo" lembra aquele discurso de que "em 64 os militares 'tomaram o poder' para pôr o país em ordem, livrar o país da ameaça Comunista"... Ou que, "no Brasil a Ditadura não foi dura e sim, branda" (o curioso é que na meu texto sobre a 'Ditabranda' da FSP também recebi um comentário "anônimo"...)! É impressionante como a verdade incomodam os reacionários que, insistem em propagar suas inverdades e alienar pessoas que, mesmo com tudo para ter um pensamento crítico, absorvem as informações sem digerí-las e prontamente as reproduzem sem sequer pensar no que está sendo dito... Não sou Chavista, tenho minhas ressalvas quanto a pessoa de Cháves, como já deixei claro para quem lê meu blog, mas não podemos negar a importância dele no combate ao imperialismo americano e no fortalecimento e apoio à países como Equador, Colômbia, Bolívia, Cuba e ao povo Hodurenho, os grandes inimigos dos EUA na América Latina, logo, não é de se esperar que os EUA tratem rapidamente de tentar 'resolver' as coisas ao modo estadunidense de ser... É preciso que, ao lermos ou assistirmos determinadas reportagens da burguesia nacional e internacional, façamos conscientes de que tais notícias/reportanges, "cumprem
uma função ao mesmo tempo em que atendem a uma intenção do
falante". E se tratando da burguesia, a intenção é de sempre estar no poder...

Thayana Santos disse...

Ah... Parabéns pelo texto! :D

vinicius souza disse...

Linda é a frase do bloguero oficial da revista Oia:
“Não é mais possível aceitar que bandoleiros recorram ao voto para matar o regime democrático, como já se fez na Venezuela, na Bolívia e no Equador”, Reinaldo Azevedo.

Entenderam? para eles, a democracia não se alimenta dos votos, mas sim das cabeças de alguns iluminados endinheirados.

Ou seja, devemos preservar a "democracia" mesmo que tenhamos que matar todo o povo para nao votarem...

Humberto Lima disse...

O golpe em Honduras foi ainda mais descarado. Zelaya sequer propunha a reeleição. Ele queria fazer um plebsicito para saber se era pra fazer um outro plebiscito sobre a mudança da constitução.

Isso mesmo!

Ia ter um plebsicito em que os hondurenhos iriam responder se queriam que houvesse um outro plebiscito para mudança na Constituição. Se votassem que SIM, no ano que vem haria o tal "plebiscito definitivo". Se mais uma vez o SIM ganhasse haveria uma nova eleição para a Assembléia Constituinte. Se o governo conseguisse maioria na assembléia, aí sim, poderia fazer as mudanças que pretende. Mas o texto final ainda teria que ser referendado em um novo plebiscito.

Então, finalmente, Zelaya poderia disputar mais um eleição e, obviamente, precisaria vence-la.

Em resumo: Para ser presidente novamente Zelaya teria que vencer 5 eleições nacionais seguidas! E a oposição bastaria vencer qualquer uma delas para estancar o processo.

De todo jeito, em nenhuma hipotese, Zeleya teria dois mandatos consecutivos.

Mesmo assim, os reacionários têm tanto medo do povo que preferiram o golpe pelo qual, com certeza, pagarão um preço muito mais alto.