quinta-feira, 12 de junho de 2014

SIGAMOS LUTANDO, COM OU SEM COPA



Desde quando me dei conta que o futebol revelava-se, de maneira tão selvagem, em menos “arte” e mais dinheiro, em seleção de indivíduos-celebridades e não em ação coletiva, que perdi o interesse em fazer-me torcedora, em colocar minha fé e energia nas cifras que rolam como bola na ponta das chuteiras estreladas. Não torço para nenhum time. Nem seleção. 

Não comemorei o fato da Copa está ocorrendo no Brasil. Porque, se em meio à crise capitalista, países europeus e os EUA não se esforçaram para assumir o ônus, enxergo que não seria o Brasil - com um ônus histórico de desigualdades, carências de necessidades básicas para a maioria da população – que deveria assumir, em festa, a conta da Copa.  

Hoje, constato, são muitos os gastos, são milhões. São muitas as obras inacabadas ou mal-feitas que, não creio, serão resolvidas a contento depois da Copa. Nossos problemas são maiores, a dívida também. E, apesar do novo cálculo para estratificar a “sociedade” brasileira, as desigualdades só fazem aprofundar ainda mais o abismo. 

Por isso, não tenho dúvidas que os motivos para protestar se multiplicam. A necessidade de lutar contra essa triste realidade é urgente. E a luta é justa. O que não é justo, nem admissível é querer fechar os olhos, virar as costas, esfumaçar ou deletar a realidade, “por amor à Pátria”. Os lutadores e lutadoras do povo que estão nas ruas há muito tempo, e não apenas e às vésperas da Copa ou das eleições, merecem respeito e apoio de quem sabe que somos muito mais do que “o País do futebol”. 

Claro, também sei, existem os oportunistas pegando carona na luta do povo. Existem os Aécios (PSDB) e Eduardos (PSB)– tão responsáveis e cúmplices com a falta de empenho em resolver nossos problemas históricos – fazendo o discurso eleitoreiro, dedo acusador apontado para o PT, como se esse fosse o único que precisa assumir sua parcela de contribuição em não transformar esse estado de coisas. 

Existem, também, os radicais sem fundamento que só querem ver “o circo pegar fogo”, mas que, concretamente, seus propósitos não diferem de quem já chegou ao poder, de quem já é governo. Existem, ainda, os reacionários que se aproveitam, saudosistas, para clamar pela volta dos “bons tempos” dos militares no poder – tempos sem liberdade, de muita violência empregada por uma ditadura.

Existem todos esses, sempre empenhados em desviar o caminho da luta. Mas, não é por isso que devo defender que o melhor é não lutar. Seria muito feio, isso sim, para um país com tantos problemas, com tantas desigualdades, essa Copa passar incólume, sem luta, sem crítica, sem povo na rua protestando, e não apenas travestido de patriota. 

Não torço contra o Brasil. Luto por ele. Pelo Brasil verdadeiramente dos brasileiros, da maioria que labuta. Não torço para que a seleção perca e isso resulte na derrota do PT. Não torço para que a seleção ganhe e isso fortaleça a campanha de Dilma e derrote Aécio/Eduardo/Marina. Torço para que a população não se deixe alienar ainda mais. Torço para que não percamos os motivos e razões para lutar, só para fazer bonito para gringo ver. Torço para que as lutas - que não param, apesar de toda repressão - contribuam para um momento novo nesse País, em que descubramos que temos direitos, inclusive de protestar, e que temos voz, vez e não apenas voto. Sigamos lutando, com ou sem Copa! 

 

sexta-feira, 28 de março de 2014

“Mataram um estudante! Poderia ser seu filho!”



Edson Luís de Lima Souto, 17 anos, estudante secundarista, de família pobre, de Belém do Pará. Mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de uma melhor preparação para conseguir ingressar na universidade.

Edson Luís almoçava no Restaurante Calabouço, onde a gororoba barata era a refeição daqueles que se sacrificavam para estudar. Era 28 de Março de 1968. Naquele dia, mais um protesto denunciava as péssimas condições estruturais do restaurante e a comida que era servida e exigia assistência estudantil adequada. Para impedir o protesto, os militares invadiram o Calabouço e metralharam o lugar. Mataram Edson Luís!

Dali em diante, as ruas do Rio de Janeiro e de vários cantos do Brasil, foram tomadas por protestos denunciando a morte de Edson, com o seguinte slogan: “Mataram um estudante! Poderia ser seu filho!” A comoção foi geral. A mobilização, em plena ditadura, resultou na passeata com o corpo de Edson, no mesmo dia, e, semanas depois, na histórica Passeata da dos Cem Mil. O assassinato de Edson Luís fazia crescer a luta contra a violência militar e sua ditadura.

Por isso, nesse 28 de março de 2014, 46 anos depois de seu assassinato, Edson Luís não foi esquecido e seu sangue derramado continua fazendo germinar a luta contra a violência policial, servindo de denúncia contra a selvageria dos militares no poder. O 28 de março também é um dia em defesa da educação pública de qualidade.

Como diz a música de Milton Nascimento, em homenagem a Edson Luís: “Quem cala sobre teu corpo/Consente na tua morte... Quem grita vive contigo.” Edson Luís Vive!





sábado, 24 de agosto de 2013

A máscara caiu!




Em um ambiente tão propício ao retrocesso, o Coronel deixa a máscara cair e assume sua verdadeira face: repressora, arbitrária, truculenta, fascista!

No carnaval de Dudu, só não entra na brincadeira o mascarado de rebeldia. 

Nessa folia, só participam seus chegados... É o bloco dos mascarados de terno e gravata, de farda, a paisana, fantasiados de estudante, brincando de se infiltrar, quebrar, para depois, aproveitar e propagar a velha desculpa de que para manter a ordem, tem que aumentar a repressão.

 É um novo velho carnaval em PE. É o carnaval da violência institucionalizada. Não toca frevo, maracatu, ciranda e nem desfila o bloco do povo, imaginando ser livre, até que chegue a quarta ingrata. 

Nesse carnaval, a dança é ao som da porrada do cassetete ao acorde de balas de borracha, prisões arbitrárias fazendo passo sob aplausos da imprensa golpista e dos reacionários nostálgicos, que se regozijam com a marcha da ditadura tocando outra vez. 

Ah, se o bloco do povo decidisse desfilar... Assim mesmo, desritmado, fora do compasso desse carnaval sem graça. Mas, afinado com os que cantam a música da democracia e da liberdade, com a cara pintada de alegria, peito estufado de rebeldia e muita disposição de frevar até fazer o sol nascer outra vez.