Desde quando me dei conta que o
futebol revelava-se, de maneira tão selvagem, em menos “arte” e mais dinheiro,
em seleção de indivíduos-celebridades e não em ação coletiva, que perdi o
interesse em fazer-me torcedora, em colocar minha fé e energia nas cifras que
rolam como bola na ponta das chuteiras estreladas. Não torço para nenhum time. Nem
seleção.
Não comemorei o fato da Copa está
ocorrendo no Brasil. Porque, se em meio à crise capitalista, países europeus e
os EUA não se esforçaram para assumir o ônus, enxergo que não seria o Brasil - com
um ônus histórico de desigualdades, carências de necessidades básicas para a maioria
da população – que deveria assumir, em festa, a conta da Copa.
Hoje, constato, são muitos os
gastos, são milhões. São muitas as obras inacabadas ou mal-feitas que, não
creio, serão resolvidas a contento depois da Copa. Nossos problemas são
maiores, a dívida também. E, apesar do novo cálculo para estratificar a “sociedade”
brasileira, as desigualdades só fazem aprofundar ainda mais o abismo.
Por isso, não tenho dúvidas que os
motivos para protestar se multiplicam. A necessidade de lutar contra essa triste
realidade é urgente. E a luta é justa. O que não é justo, nem admissível é
querer fechar os olhos, virar as costas, esfumaçar ou deletar a realidade, “por
amor à Pátria”. Os lutadores e lutadoras do povo que estão nas ruas há muito
tempo, e não apenas e às vésperas da Copa ou das eleições, merecem respeito e
apoio de quem sabe que somos muito mais do que “o País do futebol”.
Claro, também sei, existem os
oportunistas pegando carona na luta do povo. Existem os Aécios (PSDB) e
Eduardos (PSB)– tão responsáveis e cúmplices com a falta de empenho em resolver
nossos problemas históricos – fazendo o discurso eleitoreiro, dedo acusador apontado
para o PT, como se esse fosse o único que precisa assumir sua parcela de
contribuição em não transformar esse estado de coisas.
Existem, também, os radicais sem
fundamento que só querem ver “o circo pegar fogo”, mas que, concretamente, seus
propósitos não diferem de quem já chegou ao poder, de quem já é governo. Existem,
ainda, os reacionários que se aproveitam, saudosistas, para clamar pela volta
dos “bons tempos” dos militares no poder – tempos sem liberdade, de muita
violência empregada por uma ditadura.
Existem todos esses, sempre
empenhados em desviar o caminho da luta. Mas, não é por isso que devo defender
que o melhor é não lutar. Seria muito feio, isso sim, para um país com tantos
problemas, com tantas desigualdades, essa Copa passar incólume, sem luta, sem
crítica, sem povo na rua protestando, e não apenas travestido de patriota.
Não torço contra o Brasil. Luto
por ele. Pelo Brasil verdadeiramente dos brasileiros, da maioria que labuta. Não
torço para que a seleção perca e isso resulte na derrota do PT. Não torço para
que a seleção ganhe e isso fortaleça a campanha de Dilma e derrote
Aécio/Eduardo/Marina. Torço para que a população não se deixe alienar ainda
mais. Torço para que não percamos os motivos e razões para lutar, só para fazer
bonito para gringo ver. Torço para que as lutas - que não param, apesar de toda
repressão - contribuam para um momento novo nesse País, em que descubramos que
temos direitos, inclusive de protestar, e que temos voz, vez e não apenas voto.
Sigamos lutando, com ou sem Copa!