quinta-feira, 22 de julho de 2010

IDEOLOGIA, PRINCÍPIOS E ALIANÇAS


Na atual conjuntura, ainda mais em ano eleitoral, é preciso muita convicção ideológica para se manter a coerência política. Os militantes e fundadores do PT no Maranhão, Deputado federal Domingos Dutra e Manoel da Conceição, provaram que têm convicção ideológica e arrancaram do partido o direito de não concordar com a aliança PT/PMDB e não votar em Roseana Sarney para governadora. Como ninguém é perfeito, esses deputados além de continuarem militando num partido que se alia ao que há de mais podre e atrasado na política brasileira, ainda acreditam que alternativa a isso é o candidato do PCdoB. Pois é, como já disse, ninguém é perfeito.

Mas, quero registrar aqui a minha admiração pela postura desses militantes que brigaram contra uma decisão nacional do partido para defenderem suas convicções e, creio eu, as que eles ainda acreditam que, lá no fundo da alma do lulismo/pt, ainda é a convicção (mesmo que moribunda), do seu partido. A exposição que o PT sofreu com a postura desses militantes foi significativa, pois além de usarem a tribuna da câmara federal, eles realizaram uma greve de fome com direito a emergência de hospital. O desgaste foi tanto que a direção nacional se viu obrigada a recuar e flexibilizar a aliança que empurrava goela abaixo. Agora, no Maranhão, é permitido militante votar em outro candidato que não sejam os Sarney.

A resistência desses militantes é emblemática. É por isso que faço esse registro aqui e os parabenizo. Pois, ela põe a nu um PT que renega as origens, a fé e o propósito de quem o fundou e lutou para torná-lo capaz de contribuir com as mudanças necessárias ao Brasil e não para se tornar o que é – o partido do Lula - que para ser presidente e continuar presidindo é capaz de proezas como essa: Roseana no Maranhão e Temer na vice-presidência. Mas, sobretudo, a atitude desses militantes simboliza a convicção ideológica, a coerência política, a crença num partido e num projeto que tenta perseverar e resistir à lama das obscenas alianças políticas.

Pode um partido degenerar-se?

Sim. E assim o fez o PT (só para citar um exemplo), ao decidir que valia a pena pagar qualquer preço para obter um espaço no altar do poder político. Para o PT, e tantos outros partidos que partiram fora seus ideais e suas referências, “tudo vale à pena...” se a legenda não é pequena, se é para sair do isolamento político, se é para não ficar de fora de uma disputa eleitoral.

E, assim, apesar do discurso revolucionário, degeneram-se. Fazem alianças de todo tipo. Alguns até se preocupam com legendas não tão explicitamente degeneradas (!). Mas, mesmo assim, na atual conjuntura, acabam se definindo por legendas que, no mínimo, apresentam um histórico político que dificulta a vida de qualquer militante com senso crítico (já que não dá mais para esperar por convicção ideológica), para defender publicamente tal aliança.

Quanto vale um assento no parlamento?

Lênin em seu texto - “o papel dos comunistas no parlamento”- defendeu a necessidade dos comunistas participarem do parlamento, burguês mesmo, para fazerem dele, também, uma arma contra si mesmo e o capitalismo. Mas, essa defesa de Lênin não contava com legendas, alianças, pactos... Esse texto que, na verdade, trata-se da resolução sobre as eleições no II Congresso da III Internacional Comunista, realizado em julho de 1920, não traz nenhuma consideração acerca de alianças com outros partidos, além do comunista. Mas, faz duras críticas aos socialistas, em especial os alemães, que estavam se transformando em reformistas acomodados no parlamento burguês e dispostos a qualquer coisa para permanecer nele ou chegar lá. Em um trecho do documento, Lênin é categórico ao afirmar:

“Quando os socialistas que aspiram ao comunismo defendem que a hora da revolução, nos seus respectivos países, ainda não chegou e se recusam a se separar dos oportunistas parlamentares, partem da crença, consciente ou inconsciente, de que o período que começa é de estabilidade relativa da sociedade imperialista e que, por esta razão, a colaboração com os Turati e os Longuet pode dar, sobre tais bases, resultados práticos na luta pelas reformas.”

A conjuntura é outra, mas a reflexão sobre o exemplo (e o resultado dele), é muito válida e atual...